segunda-feira, 23 de outubro de 2017

O grande equívoco





Este é o nosso grande equívoco, caros concidadãos. Ter sequer imaginado que esta solução de governo socialista, com o apoio parlamentar da esquerda, tinha realmente sentido de responsabilidade e preocupações sociais.
Como se percebe hoje, com trágicas consequências, tão trágicas e inimagináveis consequências, este governo não tem sequer noção da responsabilidade que implica gerir a segurança e a protecção de vidas humanas e de recursos colectivos e pessoais.

Não apenas o PM não mudou nada desde a tragédia de Pedrógão, não demitindo a ministra da Administração Interna e a sua equipa, como não queria mudar (imagine-se!) depois da segunda tragédia de 15 de Outubro. 
E não foi só não ter mudado e não querer mudar, foi a total ausência de responsabilidade pessoal e de empatia que revelou, sobretudo depois da segunda tragédia. 
E não esquecer que entre estas duas tragédias o país ardeu durante todo o Verão e as aldeias continuaram a defender-se praticamente sozinhas. 
E não esquecer igualmente o caso grave, em termos de segurança nacional, de Tancos, novamente sem a demissão do ministro da Defesa. 

Este governo irresponsável e incompetente vai manter-se em funções porque os partidos que o apoiam, a esquerda que era suposto preocupar-se com os cidadãos em situação de maior fragilidade, o vai segurar.
Estes partidos, BE, PCP e PEV, acabam de revelar a sua verdadeira cultura mesquinha e profundamente territorial. 
É-lhes indiferente a perda tão trágica de vidas humanas, no maior desamparo possível e inimaginável, e o sofrimento das famílias. É-lhes indiferente que o centro do país, e parte do norte, esteja agora em cinzas. 
Não se questionam um segundo terem sido também co-responsáveis pelas duas grandes tragédias, pela perda de recursos colectivos e pessoais. Porque, na sua insensatez e irresponsabilidade, colocaram à frente da maior privação de todas, a vida, as reivindicações corporativas do seu eleitorado. Colocaram à frente da destruição do trabalho de uma vida, casas, fábricas, empresas, os aumentos salariais e os horários dos sindicalizados. Colocaram à frente da destruição dos recursos colectivos que demorarão a repor, o seu grupo de apoio.

Uma jornalista, Helena Garrido, quis colocar todos os cidadãos nessa responsabilidade (culpabilidade) colectiva. Está igualmente equivocada. Os jornalistas têm muito mais responsabilidade do que os cidadãos, pelo acesso a informação fidedigna e a filtros da informação pouco fiável. Informação que seria muito útil aos cidadãos para melhor se prevenirem, defenderem e protegerem.
E porquê? Porque os jornalistas, sobretudo os do canal público, escolheram replicar a versão oficial do governo sobre os incêndios e até, pasme-se!, enganá-los com investigações duvidosas e cínicas. Uma árvore onde caiu um raio? Uma empresa de aviões ou de helicópteros? Apenas a Sic abordou o que todos escondem. 
Portanto, queiram ou não aceitar essa parte de responsabilidade, também os jornalistas são co-responsáveis, embora numa escala menor à do PM, do seu governo, da AR, da administração pública em geral, da Procuradoria-Geral, dos lóbis corporativos e negociatas, de uma cultura de casta privilegiada

Quanto aos grupos de cidadãos preocupados apenas com a sua vidinha pessoal, a tal cultura corporativa, numa altura em que se esperava uma mobilização colectiva na sequência de Pedrógão e do país a arder, lembrar os grupos de cidadãos anónimos que acorreram às localidades afectadas a oferecer ajuda na reconstrução e com bens essenciais. 
É esse país comunitário que nos interessa preservar. O importante não é calcular se é maior ou menor em dimensão ao país da cultura corporativa. Esse país comunitário existe, está vivo, essa consciência colectiva que nos permitiu sobreviver até hoje como comunidade antiga.

De responsabilidade estamos conversados, não acham? E de empatia também. A capacidade fundamental de sentirmos na própria pele e na alma o sofrimento e o desamparo. Essa capacidade fundamental, tão ausente na maioria dos gestores políticos de sucessivos governos mas tão evidente no actual, assim como nos deputados da AR sobretudo nos de esquerda. 
Arno Gruen fala-nos da lógica do poder e da alienação social n' "A Loucura da Normalidade" (Assírio e Alvim) e em "Falsos Deuses" da Paz Editora. Vale a pena ler e reler.

Ontem Santana Lopes apresentou a sua candidatura à liderança do PSD. Lembro-me bem do seu governo e de como foi cercado diariamente nos jornais, até mesmo pelo Público da altura, e pelos canais televisivos. Lembro-me bem de ler um livro enigmático de um filósofo, José Gil, saído nessa altura para completar o ramalhete: "O medo de existir".
O Presidente à época é o responsável pelo governo socrático que se seguiu. Portanto, aqui já temos um Presidente, os jornais e os canais televisivos, um filósofo, a máquina socialista e, podemos daqui deduzir, outras entidades influentes do regime corporativo que nos tem condicionado.
"O medo de existir" do filósofo, que saiu nesses poucos meses do governo de Santana Lopes, evoluiu para "a não inscrição", já durante o governo socrático.
O governo socrático levou-nos ao governo-troika (passismo). O governo-troika acabou por nos levar a acreditar numa escapatória, o grande equívoco, esta solução governativa (mistura híbrida cultura socrática e passista).
Será que Santana Lopes pode ainda provar que é possível regenerar a cultura de um partido? Não se trata de o virar para o passado, embora no seu discurso o fosse visitar, sobretudo os seus valores essenciais. 
Muito inteligente a utilização frequente do verbo "clarificar".
A perspectiva de futuro que apresentou, a partir do trabalho com equipas de jovens competentes no seu campo científico e tecnológico, pareceu-me viável e credível. 
A imagem que passou é a de um homem mais maduro, consistente, experiente, capaz de ouvir e de aprender (fundamental hoje), e de se adaptar aos novos desafios. O seu lado juvenil ajuda-o a interagir com os mais jovens. A sua capacidade de auto-avaliação, do que conseguiu e do que não conseguiu fazer, permite-lhe o contacto com a realidade. O ter sido maltratado na sua vida política (pelo Presidente à época, pelo jornalismo nacional, etc.), deu-lhe resistência e maturidade. A motivação é evidente, está ali com os dois pés. Agora é o caminho a percorrer até às eleições directas.
Uma vez regenerada a cultura política do PSD e reorganizado o partido, já será possível ver uma oposição na AR com mais credibilidade e consistência. De modo a que a gestão do governo possa ser melhor avaliada.


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