quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Catalunha: a resistência pacífica passa da rua (simbólica e territorial) para a colaboração inteligente (consciência colectiva)




Tenho reflectido muito sobre o caso da Catalunha, o que me tem levado a reler Arno Gruen ("A Loucura da Normalidade", "A Traição do Eu", "Falsos Deuses").
A sua análise da lógica do poder é muito útil para perceber os estratagemas que utiliza para manipular, condicionar, dominar, destruir.
Já vimos a chantagem, a ameaça, a destruição de boletins de voto, a invasão de locais de voto, a agressão de manifestantes, a detenção de lideranças políticas e de Mossos de Esquadra.

A estratégia de manifestações pacíficas na rua, cordões humanos, simbólica e territorial, já não é eficaz aqui. Apenas servirá detenções, agressões e, pior do que isso, eventuais mortes.
No meio da agitação da rua surgem pequenos grupos violentos que se alimentam da violência e que aproveitam os tumultos para aumentar a violência.

A resistência pacífica tem de ser inteligente e passar a outro patamar, uma plataforma que utilize todos os recursos ao dispor dos cidadãos, a sua inteligência colectiva, consciência colectiva, colaboração, novas tecnologias de comunicação.
A inteligência colectiva, com a utilização optimizada das novas tecnologias de comunicação e das redes sociais é a estratégia mais eficaz.

A lógica do poder é mais perigosa quando começa a perder o pé. E a activação do art. 155 é a prova da sua fragilidade actual. 
Depois do seu discurso o rei nunca mais será reconhecido como rei na Catalunha. E é aí que a legitimidade reside: na consciência colectiva.
O seu discurso não inclui a comunidade catalã, as pessoas que encheram as ruas, as pessoas que queriam votar. Ao não as reconhecer como interlocutores e apenas referir a rebeldia do governo catalão, passou a não ser reconhecido como rei pelas pessoas. Isso foi verbalizado: "não falou para nós... só falou para os espanhóis". A fractura acentuou-se.  

Se o governo catalão não soube prever e evitar os problemas que iria criar à sua comunidade autónoma, saltando por cima de uma constituição obsoleta mas ainda activa, Madrid errou clamorosamente. Revela tiques culturais de um tempo que a sociedade espanhola julgava ultrapassado, e vai ser confrontado internamente com essa tendência autoritária.



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