segunda-feira, 8 de maio de 2017

Do domínio do cérebro reptiliano para a utilização do córtex cerebral :)


A série televisiva que mais impacto teve na minha forma de abordar os assuntos foi Cosmos de Carl Sagan.



E, também de Carl Sagan, um livro, O Cérebro de Broca.

Há uma parte do livro que nunca esqueci, em que compara o comportamento humano, na expressão de emoções básicas como a agressividade e o medo, com o comportamento dos nossos antepassados primatas :) 
Se lerem essa parte começam a perceber um pouco melhor porque é que a expressão da agressividade, na linguagem actual, está tão ligada a zonas corporais muito específicas :)
Os nossos antepassados primatas exprimiam o seu poder exibindo os genitais. Até que ponto o homem actual evoluiu quando, ao querer exprimir agressividade, traduz em linguagem o que os primatas exibem?

Fará sentido continuar a ligar automaticamente sexo e agressividade? De forma tão primária? A utilizá-lo nas piadas humorísticas e na crítica política e social?
A meu ver, já não faz qualquer sentido.


Há vários níveis cerebrais do humor, querem ver?

- humor primário, aquele que praticamente não tem mediação do córtex cerebral, e aqui temos as chamadas anedotas de teor sexual, que encontramos hoje nalguns comediantes e nalgumas comédias enlatadas americanas;

- humor mimético: quantas vezes, sem sabermos a razão porque o outro está a rir, somos contagiados pelo seu riso? Sobretudo em situações em que o riso contradiz o contexto social e/ou será motivo de reprovação. 
Podemos incluir neste nível o riso nervoso, uma forma de acalmar a ansiedade :)

- humor empático: quando descobrimos contradições e paradoxos, na nossa humanidade comum. Depois do riso fica uma sensação agradável de bem-estar que não se dissolve, como acontece nos níveis anteriores. Ficamos algum tempo nesse estado de relação existencial com quem nos rodeia.

Um exemplo deste nível humorístico:


    
No vídeo mais longo Jimmy Kimmel também refere a alegria da irmã mais velha de Billy, o que contradiz claramente com a fotografia. :)

Aqui entram diversas emoções, ligadas entre si, e já estamos a utilizar os neurónios do córtex cerebral: o suspense relativamente à história do recém-nascido Billy, a nossa empatia com os pais, o alívio ao ver como a história correu bem, a atenção profissional da enfermeira, a sorte no meio da desgraça, a noção da nossa fragilidade humana, a confirmação das histórias familiares comuns, a incrível parecença do bébé Billy com o pai :) e os ciúmes da irmã mais velha :)


Vivemos num tempo em que a agressividade e o cinismo humorístico chegaram a um beco sem saída. 
Também na política já começamos a verificar isso mesmo. Pode ter resultado até aqui, mas já se começam a ver sinais de que essa forma de expressão primária de poder está esgotada.

As pessoas procuram cada vez mais a autenticidade, que é diferente de ingenuidade. 
Querem ser desafiadas pela sua inteligência, não pelos seus impulsos e automatismos. 
E querem sentir que não são simples espectadores ou figurantes, participam na história, fazem parte da mesma história, dão o seu feed-back. Isso mesmo: feed back. 

E reparem nas implicações que isto já está a ter no mundo do entretenimento (espectáculos ao vivo), e na política (novos movimentos).
E nas implicações que vai ter no trabalho (actividades profissionais) num futuro próximo. 
Palavras-chave: comunicação; empatia; aprender; experimentar; participar; inovar; mas também os afectos.  

Que áreas de actividade vos saltam à vista?

Política e economia: num novo patamar de colaboração e responsabilidade, as comunidades criativas.
Ciência: para lá da inovação tecnológica, a inovação cultural.
Saúde: na prevenção e nas situações de maior dependência.
Educação: na primeira fase sobretudo, com crianças.
Entretenimento e espectáculos ao vivo: humor, música, teatro, ou tudo misturado :)
Novas modalidades desportivas e desafios em grupo.
Visitas guiadas e actividades culturais.
Enfim, tudo o que implicar a nossa especificidade humana: sociabilidade, afectividade, criatividade, sentido humorístico, e capacidade de aprender.





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