sexta-feira, 24 de março de 2017

A segurança depende da democracia





Quais são as condições básicas da segurança? Como deve ser perspectivada? Qual é o ambiente favorável à segurança? De que lideranças europeias precisamos?

A equação que proponho é: democracia - equilíbrio - colaboração - inovação cultural. 
É aqui que reside a nossa segurança.


1ª componente: democracia

Vamos fazer rewind: só um amnésico ou muito distraído não aprendeu nada com a história do séc. XX. Acredito que muitos da minha geração, a que viveu a adolescência nos anos 70 e bebeu alguns ideais de paz em liberdade e amor universal, aprenderam a imunizar-se ao vírus das grandes ideologias das gerações anteriores. Por isso é que considero que a minha geração é uma geração de transição. Ficou pendurada no tempo. A cultura dominante em que viveu não correspondia à sua forma de ver e viver. Restava-lhe observar, analisar, deduzir. Restava-lhe aprender.
A internet, pelo acesso à informação e pela comunicação em tempo real, foi o primeiro salto no tempo. A partir daí, o desafio era essencialmente cultural: tínhamos as tecnologias mas faltava-nos a acção inteligente e inovadora e a descodificação cultural.

É aqui que a nossa geração de transição pode ser útil às gerações posteriores: passar o testemunho do que vimos e vivemos de uma cultura passada, organizada em ideologias, e por uma lógica de separação, competição e desequilíbrio de poderes, que não é compatível com a democracia, a participação, a colaboração. Essa cultura não nos serve.

Dizem-nos que este populismo que vemos na liderança americana e em lideranças de países europeus é novo. Não é. É o mesmo populismo das ideologias do séc. XX. O que mudou foi a forma, a mensagem, a propaganda. Tornou-se mais simples, directa, reactiva, impulsiva, no tempo sincopado do séc. XXI. Não é por acaso que a forma utilizada pela liderança americana é o tweet. :)

É preciso aprender a descodificar a mensagem, identificar a cultura de base e desmontar a agenda.
Não é um desafio fácil, a mensagem é apresentada de forma simples e atractiva. Apela às emoções básicas como o medo, a raiva, e torna-se viral. Recorre a bodes expiatórios, a forma de bullying político mais eficaz. A separação e divisão das comunidades começa assim, e liga-se aos preconceitos culturais subliminares.

A partir do momento em que se descodifica a mensagem e se identifica a cultura de base, a agenda surge-nos mesmo à nossa frente: manter a sociedade organizada numa nova versão do velho formato de sociedades hierarquizadas, em que o poder é concentrado num pequeno grupo com privilégios especiais. A democracia é esvaziada e fica a funcionar como caricatura, alimentada por tablóides. 
Estas lideranças pensam que estão a lidar com cidadãos ignorantes e facilmente manipuláveis, que podem alienar com promessas de um futuro brilhante. Na realidade, ainda conseguem alguma ressonância nas pessoas que foram fortemente prejudicadas pela globalização selvagem e/ou pelas fraudes financeiras e/ou pela austeridade europeia, assim como nalgumas franjas de fanáticos.


2ª componente: equilíbrio

O equilíbrio é uma das palavras-chave da vida na terra (ver aqui ao lado). Porque é uma condição básica da vida.
Também é uma condição básica da segurança.
A democracia pode ser perspectivada como uma forma equilibrada de organizar a nossa vida colectiva. Também é assim que podemos perspectivar a liberdade e resolver alguns equívocos culturais.


3ª componente: colaboração

Outra condição básica da vida. Basta estudar as células, os neurónios, como respondem a uma emergência.
Transponham este princípio para as pessoas, as comunidades, as cidades, os países, os continentes.  
Hoje temos de pensar no mundo global. Somos, em primeiro lugar, cidadãos do mundo, habitantes de um mesmo planeta. A seguir, somos cidadãos de um continente, de um país, de uma comunidade.

Os populismos quiseram uma globalização só para alguns (Thatcher) e agora querem negócios protegidos e trocas trans-nacionais à sua medida (Trump, Le Pèn). Podem prometer o mundo como o vêem e querem transformar, mas 
estão apenas a bater com a cabeça nos muros que querem construir. E a levar atrás da sua alucinação as populações conformistas.


4ª componente: inovação cultural

Se as ideologias não funcionaram no séc. XX, a não ser para alguns fanáticos e alucinados, como continuam a fazer estragos no séc. XXI? Que tipo de ideologias estão a ser propagadas pelos fanáticos actuais? 
Ideia-base comum: A supremacia de uns sobre outros, uns são os líderes, as elites, são servidos e protegidos por um grupo de fiéis, e dominam sobre as massas.
Quem são os líderes, as elites, ou os escolhidos? A meu ver, é importante observar que o escolhido nem sempre é quem detém o verdadeiro poder. O exercício do poder efectivo tornou-se mais ramificado e sofisticado (também funciona em rede). Actualmente vemos que a imagem proposta é um cabelo louro platinado, uma voz forte, os tablóides atrás e algumas frases simples e com impacto. Por trás está a máquina, os interesses, as finanças, os negócios.

Acham que depois de provar e saborear as possibilidades que o séc. XXI nos pode trazer, que conseguiríamos sequer respirar nesse mundo abafado, poluído, ruidoso, dos populistas actuais?

O futuro já nos inspira actualmente, aprendemos todos os dias, comunicamos em tempo real com pessoas de todo o planeta, encontramos ideias comuns, objectivos comuns, queremos colaborar em novas soluções. Já vimos que os recursos podem ser optimizados de forma inteligente, que todos podem ter acesso ao essencial para a vida, sem prejudicar o planeta = destruir as condições da própria vida. 


Concluindo:

A segurança deve ser encarada numa perspectiva aberta, ampla, inteligente, preventiva, de colaboração e em democracia




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