segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

O falso dilema nacionalismo - multiculturalismo e a equação identificação cultural - colaboração - inovação cultural




O conceito de nacionalismo serviu historicamente o poder e permitiu a delimitação de fronteiras.
Mais recente, o conceito de multiculturalismo serviu para promover a coexistência pacífica de diferentes culturas sem que se exija a cada uma a perda da sua identidade cultural, e até indicando as vantagens da sua interacção.

Contrapor nacionalismo e multiculturalismo sempre foi um falso dilema. Podemos desmontá-lo ao desmontar os próprios conceitos e ao identificar as suas bases.

O nacionalismo entendido como: 
- delimitação territorial de um determinado país, é definido hoje como soberania nacional e a questão prende-se com a política e a economia; 
- preservação de identidade cultural não tem qualquer base histórica, pois a própria cultura de um país já é uma mistura de muitas culturas diversas (Portugal é um óptimo exemplo disso). Trata-se, assim, de querer congelar o tempo num determinado período histórico, com os seus símbolos e valores, e tudo pelo poder e influência.
- defesa étnica, à flor da pele, é uma recusa do contacto com populações de outros continentes, mas este facto nunca é afirmado abertamente.

E será que as sociedades multiculturais são uma novidade histórica? 
Não coexistiram no médio oriente diversas tribos num mesmo espaço territorial? É o que nos dizem os historiadores em documentários. Mesmo que existisse uma estratificação social, a coexistência era pacífica.
Cidades como Alexandria, culturalmente e cientificamente inovadora, não era uma sociedade multicultural?
Atenas, não era uma sociedade multicultural?
E saltando para o séc. XX temos Paris no seu apogeu desde o final do séc. XIX, Londres a partir dos nos 70, Berlim depois dos anos 90.
Na América, Nova Iorque e São Francisco, dois exemplos de inovação cultural.

Mas podemos impor aos cidadãos que querem viver num determinado tempo histórico (os anos 60 franceses, os anos 70 ingleses, os anos 80 americanos, por exemplo), que se adaptem ao séc. XXI? Não, nem sequer é necessário. É que a questão não é sequer social, é política e económica. É essa a confusão. 
Foi o thatcherismo que atirou o Reino Unido para o Brexit ao esquecer a maior parte dos seus cidadãos, não os imigrantes.
Foi a má gestão política e económica da UE que deu fôlego ao nacionalismo de Le Pen, não os imigrantes ou os refugiados.
E foi Wall Street, um sistema financeiro desregulado e a globalização que atiraram parte da América, que vivia da indústria, para os braços de interesses de grupos internacionais de agenda desconhecida, não os imigrantes latinos.


Depois de desmontado o falso dilema, a equação que fica é a da identificação cultural - colaboração - inovação cultural.

Identificação cultural: hoje podemos escolher a cultura que melhor ressoa nos nossos neurónios e nas nossas emoções e afectos. Não estamos limitados a uma única cultura e forma de ver o mundo ou lidar com os outros. 

Colaboração: podemos todos coexistir na mesma casa, o planeta, na base do respeito mútuo. Há lugar para todos, desde que respeitados estes princípios: a universalidade dos direitos humanos em primeiro lugar; a delimitação territorial, que pode ser negociada mas não decidida unilateralmente; os acordos ambientais, cujo não cumprimento deve ser fortemente penalizado.

Inovação cultural: estamos sempre a aprender com a interacção, a cultura é movimento. 








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