terça-feira, 15 de novembro de 2016

A identificação com o agressor





Procurava eu aqui alguma coisa de positivo no que aconteceu na noite do dia 9, mas a cada dia que passa desde a eleição de Trump o que surge é o medo. E o que é o medo? Um aviso do nosso sistema límbico de uma situação de perigo para a qual temos de dar uma resposta rápida. No fundo, o medo é o sistema básico de preservação da espécie.

Também a Constituição americana foi construída para garantir:
- a preservação de cada cidadão e a possibilidade de se exprimir livremente, de se realizar pessoalmente, de prosperar e até de ser feliz;
- a convivência pacífica e harmoniosa entre os diversos cidadãos e entre as diversas comunidades;
- a organização de um país por estados e a sua representação equilibrada num governo com diversos filtros do poder.

No entanto, a Constituição americana não foi suficiente para evitar um Hoover ou um McCarthy. E o Al Capone só foi preso pela fraude fiscal.
A liberdade de expressão permitiu o apelo à separação, à delação, à perseguição, à violência, à opressão. Tudo o que a Constituição permite evitar.

É verdade que se aprende com os erros, mas este erro vai sair muito caro, pode até vir a ser um erro fatal. Não apenas para a América, mas para todos nós.
Quem nos pode garantir hoje a mais básica de todas as nossas expectativas: a preservação da nossa espécie?  

Após o aviso, o sinal de alarme do nosso sistema límbico, não nos devemos deixar ficar paralisados nessa double bind.

Arno Gruen está muito actual. Mostra-nos como o agressor se alimenta do ódio e da negação do medo, do sofrimento, da dúvida: a linguagem do poder. Este tipo de personalidade, o agressor (lógica do ganha - perde) verifica-se numa pequena minoria da população mas gravita inevitavelmente à volta do poder. Por isso a encontramos onde o poder se exerce, seja político, financeiro, bélico. 
O mais interessante da sua análise é constatar a tendência para o conformismo na maioria da população (e isto parece verificar-se no geral das populações). É isto que explica entregar o poder ao seu próprio inimigo ou a identificação com o agressor.

Dito assim é assustador, mas é isso que acontece. Também aconteceu em 2011 em Portugal apelando à vinda da troika, vendendo aos cidadãos os benefícios da austeridade, culpabilizando-os pela dívida e fazendo-os sofrer. Para sair desta double bind foi preciso um golpe de sorte senão ainda lá estaríamos sequestrados.
Mas veja-se a situação actual dos gregos, depois de terem sido humilhados pela UE e até pelos outros países membros. Ainda estão sequestrados pela double bind da dívida e do euro. 

Arno Gruen mostra-nos as diversas fases das reacções humanas no caminho da verdadeira maturidade: conformismo - rebeldia - autonomia.
É a autonomia, a responsabilidade por nós próprios e pelos nossos concidadãos do mundo que nos irá permitir sair da double bind da linguagem do poder.





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