sábado, 26 de março de 2016

A cor e o som da violência

Não é correcto dizer-se que a violência do terrorismo é recente na Europa e no mundo ocidental. A última década foi relativamente calma por estes lados, graças a Deus.
Mas a história da violência do terrorismo ainda está presente na minha memória desde a infância. Os anos setenta e os desvios de aviões, os jogos olímpicos de Munique, o IRA na Irlanda do norte, os Baader-Meinhof na Alemanha, as Brigadas Vermelhas na Itália, Aldo Moro... Isto tudo era notícia que enchia jornais. Algumas destas histórias eram dissecadas até ao pormenor na Reader's Digest, ainda em pronúncia brasileira. E isto em cima das histórias da guerra colonial e das filmagens do mato e dos votos de Boas Festas no Natal: até ao meu regresso.... Muitos não regressaram.
Os anos oitenta, noventa, e o início dos anos dois mil também foram agitados. A violência terrorista culminou em Nova Iorque e em Madrid. Voltou recentemente, desta vez em Paris e Bruxelas.

É sim correcto dizer-se que a violência do terrorismo se tornou mais preocupante. Antes os terroristas ainda divulgavam um motivo político e os ataques eram dirigidos e cirúrgicos. Agora os alvos são cidadãos indefesos. O que torna tudo mais horrível. A insanidade parece-me maior, é a glorificação da morte, a cultura da morte, o vazio total.

Para uma criança as histórias de violência adquirem uma cor e um som, pelo menos foi assim comigo. A cor, o cinzento do fumo e o vermelho do sangue. O som, uma sirene estridente e gritos aflitos. 
Por isso fiquei tão perturbada ao ver as filmagens do atentado recente no aeroporto de Bruxelas. Via-se fumo e ouviam-se gritos que me pareceram de criança.







2 comentários:

  1. A harmonia do individuo sempre foi e será uma determinada ordenação sobre um caos maior, quer estejamos a falar da destruição patológica do indivíduo doente e desligado, desarmonia, quer falemos da destruição/construção do universo no equilibrio das suas energias, sempre harmoniosa em si.

    O mundo, de cada indivíduo será, apesar de tudo, sempre uma obra pessoal. O mundo para cada pessoa existe depois e consoante o entendimento que faz ele. O mundo não é o que o indivíduo entende, mas o que ele entende é que é o mundo para si.

    O entendimento é realizados por processos intuitivos/inteligências que se vão desenvolvendo ao longo da vida e que têm o seu fundamento fonte e estrutura no nosso inconsciente.

    Enquanto que nos primeiros anos e parte da vida o inconsciente é formado pelo resultado da resolução das experiências da existência num nível de ação/reação com vista à afirmação e determinação de si próprio como forma de existência, numa fase porterior e tão cedo quanto possível o indivíduo tem ao seu dispor um conjunto de faculdades de que pode dispor se delas tomar consciência e desenvolver e que na verdade constituirão a verdadeira adultez.

    Essas são as faculdades de desenvolver um entendimento do mundo que lhe permita passar de agente passivo da existência dos outros e da agenda dos fenómenos externos à sua ação e passar a ser o criador de um entendimento, que passará a ocupar o fornecimento de experiências ao inconsciente, que faça uso das suas inteligências, adquiridas e desenvolvidas, para levar a cabo a seleção do que é bom e a rejeição do que é mau, tendo presente a consciencia de que os seus recursos, tempo e energia, são limitados e que a qualidade da sua energia e experiência de vida depende de uma estética e ética seletiva, a do bem, aquela que prmove a vida. Desta forma, como forma de produzir ele próprio essa estética ética, o homem, logo que adulto (esclarecido e grande) tem a possibilidade e faculdade de levar a cabo essa seleção, cuja propósito é a construção de um mundo melhor para si e que não existe sem essa ação, e que terá sempre que começar em si pela sua constituição enquanto factor construtor, em primeiro de si próprio e consequentemente do mundo que deseja entender e que estará entao a criar a partir daquilo em que se construiu e daquilo que entende e estará já a construir a partir do que o rodeia.

    Do mundo só se pode controlar o que criamos, desde logo o entendimento. Esse é da nossa responsabilidade, mais do que as ações dos outros.

    Ficar à espera que um determinado mundo aconteça tem 2 consequências maiores:
    perdemos a moral
    não damos uso às faculdades que felizmente temos de criar um mundo melhor, desde logo pela seleção daquilo que focamos e valorizamos.

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    1. Gostei da ideia fundamental de "dar uso às faculdades que felizmente temos de criar um mundo melhor, desde logo pela seleção daquilo que focamos e valorizamos."
      É que o que escolhemos observar e valorizar já determina a nossa intervenção no mundo.
      Obrigada pelo comentário.

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